Motirõ promove debate sobre justiça climática e alerta para os riscos do ponto de não-retorno

  • DATA DE PUBLICAÇÃO: 06/06/2025

A Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP) realizou, na última quinta-feira (5), o segundo encontro do programa Motirõ, com o tema “Justiça Climática e o ponto de não-retorno”. O evento foi conduzido pela ecóloga Ima Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e assessora da presidência da FINEP, no auditório do CAPACIT, na Universidade Federal do Pará (UFPA).

A palestra abordou como a crise ambiental afeta de maneira desigual diferentes populações, especialmente na Amazônia, e propôs uma reflexão sobre os limites planetários. O conceito de “ponto de não-retorno”, – momentos a partir dos quais os danos ambientais podem se tornar irreversíveis, foi apresentado como um alerta para ampliar a compreensão dos impactos ambientais em curso e suas consequências sociais.

Palestra com a ecóloga Ima Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e assessora da presidência da FINEP.


Durante o debate, a ecóloga Ima Vieira apresentou dados que evidenciam a desigualdade no consumo de recursos naturais no mundo. Cerca de 80% dos recursos naturais são consumidos por menos de 20% da população global. Esses 20% mais ricos utilizam 45% de toda a carne e peixe disponíveis no mercado, enquanto os 20% mais pobres consomem apenas 5%. No caso do papel, a diferença é ainda maior: 84% do consumo fica concentrado nos mais ricos, contra apenas 1,1% dos mais pobres. Esses números reforçam a urgência de políticas e ações que promovam a equidade na distribuição dos recursos.

Ecóloga, Ima Vieira.

“A justiça climática faz um vínculo entre desenvolvimento e direitos humanos. Trata-se do direito de viver bem, com segurança alimentar, ambiental, em todos os sentidos. Como os efeitos da crise climática são diferentes entre territórios, é fundamental que a população tenha acesso à informação científica, principalmente aquela produzida na Amazônia e sobre a Amazônia”, explicou a ecóloga Ima Vieira. “Foi um debate muito rico, necessário e esclarecedor”, completou.


O Motirõ é uma iniciativa da FADESP que promove uma série de encontros, de maio a outubro, com o objetivo de preparar a comunidade acadêmica e científica para a COP30, que acontecerá em novembro, em Belém. A programação busca fomentar a educação e o letramento ecológico, promovendo debates que articulem ciência, território e justiça socioambiental.

Analista de projetos, Eline Silva.

A analista de projetos da FADESP, Eline Silva, ressaltou sua preocupação com os dados apresentados. “Se ultrapassarmos esse limite de não-retorno, os impactos serão muito mais graves e irreversíveis, especialmente para comunidades vulneráveis, ecossistemas e economias mais frágeis. Há estudos consistentes nos alertando, mas precisamos de ações mais rápidas. Não podemos permanecer apenas na teoria. A COP30, representa uma oportunidade histórica. Além de reforçar o papel do Brasil e Amazônia no cenário climático global”, disse

Pós-doutorando, Madson Freitas.

Já o pesquisador e pós-doutorando do Museu Goeldi e orientando de Ima, Madson Freitas, reforçou a importância do debate: “Justiça climática é um tema importante no cenário atual das emergências climáticas, das mudanças que estamos observando, mas principalmente do ponto de vista da distribuição equitativa dos recursos ou da própria justiça que se fala entre os impactos ambientais e as melhorias socioeconômicas das populações das grandes cidades, ribeirinhas, tradicionais, quilombolas e indígenas.”


Motirõ é uma palavra de origem tupi-guarani que significa “reunião de pessoas colhendo ou construindo algo juntas, umas ajudando as outras” — conceito que sintetiza a proposta do programa.

Acompanhe as redes sociais e o portal da FADESP para os próximos encontros. O Motirõ segue até outubro com mais diálogos urgentes e necessários sobre o futuro da Amazônia e do planeta.

Texto: Brena Marques – ASCOM/FADESP
Fotos: Aryanne Almeida